Quando este País vai levar a sério a inspeção e a manutenção de suas obras?

29/09/2012 18:01

O número de acidentes com vítimas fatais e sérios ferimentos, além de danos materiais de todos os tamanhos que envolvem obras em nosso país é assustador e as notícias sobre eles pipocam nos noticiários com uma frequência espantosa. Para algumas pessoas desavisadas, isso até parece normal e faz parte da vida, como se nada disso pudesse ser evitado.

Tampas de ferro muito pesadas de câmaras subterrâneas voando pelas ruas como se fossem aviõezinhos de papel, favelas pegando fogo como numa insana festa junina, crianças eletrocutadas em cercas de escolas e, no mais recente episódio, três prédios desabando sem nenhum aviso no começo de uma noite na Cidade Maravilhosa, matando várias pessoas. Tudo isso é obra do acaso? Destino? Normal? Inevitável?

Coloque-se uma lupa em cada um destes eventos e facilmente é possível encontrar algumas coisas em comum entre todos eles: descaso, negligência, falta de fiscalização e falta de manutenção preventiva (e, porque não, preditiva). Todos esses episódios, sem exceção, poderiam ter sido evitados ou, na pior das hipóteses, terem sua quantidade e gravidade drasticamente reduzida fossem outras a postura e a cultura de nossa sociedade. Não é que não existam acidentes desta natureza em outros lugares, particularmente nos países econômica e socialmente mais desenvolvidos, mas, no mínimo, são de menor frequência e as consequências para os culpados muito mais severas que as verificadas por aqui.

Deixando de lado os aspectos de inspeção e manutenção de estruturas e outras utilidades (todas elas muito importantes), o foco deste artigo é em relação à infraestrutura elétrica.

Qual a diferença entre o efeito da idade numa pessoa e numa rede elétrica? Fácil! Nenhuma! Ambas se deterioram, enfraquecem, perdem consistência, apresentam mau funcionamento, perdem eficiência, confiabilidade......... até se acabarem. A explosão de uma câmara subterrânea é o equivalente a um AVC numa pessoa. Seguindo neste paralelo, a chance de alguém que não se cuida, não faz exercício regularmente, não se alimenta adequadamente, não consulta o médico regularmente ter um AVC é estatisticamente muito maior do que alguém que faz tudo isso ao contrário. De modo similar, a chance de uma rede subterrânea de elétrica, gás, água, esgoto mal conservada, sem inspeções regulares, descuidada, dar problemas é muito maior do que se a tratarmos com mais atenção e cuidado.

Muitas obras em geral e edificações em particular foram construídas no Brasil a partir da Segunda Guerra Mundial, com notável incremente na chamada época do “Milagre Brasileiro” – nos anos setenta do século passado. Portanto, temos um imenso estoque de instalações e montagens elétricas com mais de 50 anos ainda em plena atividade no país. Algumas redes subterrâneas, por exemplo, das cidades do Rio de Janeiro e São Paulo têm 70 ou mais anos!

É fácil constatar, portanto, que essa infraestrutura está se aproximando muito ou já está enfrentando o fim da sua vida útil. Isso não é ciência exata, mas há um consenso silencioso na comunidade técnica de que, a partir dos 20 ou 25 anos, uma rede elétrica qualquer já necessita de uma reforma mais profunda.

As partes móveis de equipamentos como disjuntores, contatores, interruptores e outros já podem estar comprometidas. Os materiais isolantes dos vários dispositivos e, em particular, dos fios e cabos elétricos, estão na reta final de suas propriedades, graças aos incontáveis ciclos térmicos aos quais os produtos foram submetidos.

Acrescente-se a esse desgaste natural dos materiais as novas solicitações a que a instalação está sujeita (presença maciça de equipamentos eletrônicos, medidas de conservação e racionalização do uso de energia, novas legislações, etc.) e teremos uma situação quase inadiável de necessidade de manutenção ou reforma mais ampla das instalações existentes.

A grande questão que se impõe neste assunto é: como fazer para que a infraestrutura elétrica seja inspecionada e mantida periodicamente de modo a evitar e reduzir significativamente os problemas e acidentes causados por elas?

Evidentemente o assunto não é simples e não há fórmulas mágicas para resolvê-lo, mas, por outro lado, não é tão complexo e etéreo para que não se encontrem saídas razoáveis para ele. Nada que uma boa conversa e entendimento entre todos os atores envolvidos no tema não leve a uma boa solução por consenso. E a hora é agora! Até porque, o que já aconteceu não se desfaz mais. E esperar pela próxima calamidade no futuro é irresponsabilidade.

Quem são os atores envolvidos neste tema? Proprietários de imóveis, proprietários de redes públicas, órgãos de defesa dos cidadãos, comunidade técnica, científica, academia, legisladores, autoridades do executivo, bombeiros, órgãos normativos e regulatórios, dentre outros. Nós, da Revista O Setor Elétrico temos todo o interesse em fomentar e divulgar essa discussão que, por meio de ações concretas, poderá reduzir em centenas de mortes, milhares de acidentados e muitos milhões de prejuízos por ano para nossa sociedade.

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